sábado, 16 de novembro de 2024

Crônica de mãe

Parei por um ano minha relação com a música para experimentar o silêncio e solitude que acompanham uma mãe. O único som que me interessava na gestação era o coração de minha filha. Agora ela fez seis meses e estou atenta aos seus grunhidos, choros, chamados, gargalhadas. É uma verdadeira sinfonia que preenche tudo aqui em casa. Ouço sua voz até quando Ada não fala. Acho que isso acontece porque ela morou em mim. O pai não escuta essa frequência. Só eu. Corro para o quarto de instante em instante - "Ada quer colo". Quando chego, dou colo sem ela ter pedido. Parece que quem quer o colo dela sou eu. Descobri que mãe é assim. Não durmo há meses, para ela dormir bem. Como de tudo, para ela mamar bem. Sou mais ela do que eu. Por livre e espontânea vontade de amar e querer bem. Acho que isso é para sempre. Que bom! 

Fiz até uma canção sobre isso. Qualquer dia toco ela e publico por aqui: 


Primeiro lar

O meu corpo é travessia

ao encontro de você

Casulo em metamorfose

pronto pra te receber


Durante a estadia

nos tornamos um só ser

eu aprendo a ser mainha

e você o meu bebê


Que cor há de ter seus olhos?

O que te encantará?

Será o brilho da lua

ou o balanço do mar?

Como há de ser seu jeito?

O que seu peito cantará?


Eu estou aqui, amor

Sempre o seu primeiro lar

Seu primeiro cobertor

Meus braços são porta aberta  

Você sempre pode entrar. 




quinta-feira, 15 de junho de 2023

Sobre Maria Bethânia

 

No ultimo dia 9 de junho, eu realizei um sonho: assisti Maria Bethânia cantar ao vivo. E quanta coisa a gente aprende como artista com essa experiência. 

São quase duas horas de espetáculo, entre luzes e sombras, sons e silêncios, músicas e poesias praticamente ininterruptas, costuradas a mão, ou melhor dizendo, à voz. E que voz.

Digo praticamente ininterruptas porque em dado momento, algum sujeito da plateia achou de bom tom pedir aos gritos a "toca reconvexo" no momento em que Bethânia recitava um poema. Ela parou. Aguardou. Disse: "Irei recomeçar".  

Aplaudi de pé a abertura com Gema e, em seguida, uma salva de palmas para Gal enquanto uma fotografia das duas surgia por detrás do palco. O Teatro desabou antes do show começar.

Depois ouvi "um índio" com uma interpretação, forte, de pé no chão, percussão crua ao fundo, o refrão que todos sabemos de cor recitado ao som dos tambores. 

Veio Gonzaguinha, veio Chico César, Belchior, mas quando ela cantou "amor de índio" e "um sonho impossível" solo, meus olhos transbordaram em lágrimas. Que número lindo! 

Trechinho de um sonho impossível. Não consegui gravar muita coisa para não perder nada. 

No final tivemos frevo, axé, bis e mais bis e tudo terminou em "O que é? o que é?"

Que aula de profissionalismo e quanto estudo. Todo o repertorio selecionado e executado nos mínimos detalhes para
que viajássemos entre ternura, melancolia, paixão, felicidade, esperança e saíssemos do teatro com as energias renovadas.

 

sábado, 20 de maio de 2023

Sobre Cacilda


Dia 16 de maio de 2023 partiu sem pedir licença minha amiga, Cacilda. 

Ainda não sei por quanto tempo meu coração parecerá esmagado. 

Cacilda era nossa guardiã. Sentia nosso amor, tristeza, alegria, raiva, melancolia. Nos acalentava se colocando em nosso colo. Éramos tutores ao mesmo tempo que tutelados. Dois adultos tentando construir uma história com a ajuda de uma gata que mais parecia gente, filha, amiga, confidente. 

Não pude fazer nada além de escrever uma canção para homenageá-la. 

Onde quer que esteja, te amo, meu anjo. 💗💗



   

Minha guardiã


O amor que eu sinto?
Infinito!
Não esquece ou esmorece


Porque tenho o seu zelo
teu chamado de manhã
pra abrigar-se em meus cabelos
minha amiga, guardiã
dormia em meu travesseiro

Sei que quando amanhecer
não encontrarei você
Mas o nosso amor fica!

Se transforma, muda a forma
Nada apaga a nossa história
Se não podemos mais amar com abraços
te amamos em memórias... 



segunda-feira, 15 de maio de 2023

Sobre mães.


Tempos atrás li o livro Mulheres de Cinzas de Mia Couto.

O trecho em que Imani, personagem central, fala sobre a origem do seu nome me marcou. Ela fala que as mães tecem almas. Achei isso lindo:

"Diz-se em Nkokolani, a nossa terra, que o nome do recém-nascido vem de um sussurro que se escuta antes de nascer. Na barriga da mãe, não se tece apenas um outro corpo. Fabrica-se a alma, o moya. Ainda na penumbra do ventre, esse moya vai-se fazendo a partir das vozes dos que já morreram. Um desses antepassados pede ao novo ser que adote o seu nome. No meu caso, foi-me soprado o nome de Layeluane, a minha avó paterna."


Repito:

“Na barriga da mãe,
não se tece apenas um outro corpo.
Fabrica-se a alma.”
(Mia Couto)

Feliz dia das mães, tecelãs de nossas almas! ❤️

quarta-feira, 10 de maio de 2023

Sobre Rita Lee

 


Perdemos Rita Lee.





Quando comecei a cantar por aí, aos 13, seus sucessos como Pagu, Mania de você, Mutante, Agora só falta você, Doce vampiro, Flagra e tantas outras canções estavam comigo nas primeiras andanças pelo palco. Aprendi muito sobre liberdade com ela. 

Que saibamos honrar seu legado. 

Sejamos livres! 




Sobre minha segunda-feira

 


Essa segunda tive um dia acelerado, mas especial. 


Primeiro, falei na Rádio 95Fm sobre o projeto som potiguar, juntamente com Fellipe, e toquei minha música "Contudo", voz e violão, pela primeira vez numa rádio. 

O papo foi rápido, mas minha felicidade em poder falar de minhas raízes geográficas e afetivas permanecem. 

Sou da Cobra. Venho de um povoado da zona rural de Parelhas. Sou filha de Marilu e Adebal. Ela artesã e ele poeta popular. Ela preparou uma jaqueta jeans com muita personalidade pra eu usar nos palcos e não esquecer que sou artista quando as inseguranças surgirem. Coisas de mãe que conhecem nossos sonhos melhor que nós mesmos. 💖

Micarla e Miqueias, apresentadores gentis e atenciosos, repararam e comentaram o figurino. E eu só pensava que tinha feito mainha feliz naquele dia. 








Depois, parti para tocar algumas canções no Solar Bela Vista, no lançamento de livros da editora do IFRN. 

Meus pais, meu companheiro e minha irmã fizeram questão de assistir. Carlos montou o som, Painho trouxe um pedestal de partitura coberto de chita pra mim que ele mesmo preparou, mainha e Liz puxaram as palmas ao final de cada canção. 

Isso não tem preço. 




  




sábado, 6 de maio de 2023

Sobre o blog

Sobre o blog.


Não sei se as pessoas ainda costumam ler blogs hoje em dia, mas mesmo assim venho sentindo a necessidade de registrar minhas experiências nas andanças musicais não só por vídeo e canções. É preciso escrever. Completei 34 primaveras ontem e desde que caímos nas garras do apocalipse ético que virou o Brasil decidi voltar a fazer música, a cantar, a tocar, a escrever canções, a colocar minha cara no sol. Já que todos tem algo a dizer sobre tudo, que eu fale também por voz e por sons sobre música e sobre mim que isso não faz mal a ninguém.   

Dia 18 de novembro de 2022 lancei minha primeira música gravada em estúdio: contudo. De lá para cá, não paro de pensar em quantas coisas ainda quero dizer. Tanta bobagem e não bobagem não dita ao longo desses 34 anos... então por que não?

Cá estou eu. Disposta a falar, melhor, a cantar e escrever sobre o que canto e penso. 

Primeiro, organizei meus perfis nas redes sociais. Decidi trocar o perfil Ana Paula com fotos de confraternizações, por cantora Ana Ferreira, com vídeos de versões, apresentações. Desde então sou cantora. Desde muito antes, na verdade, mas parece que dizer nos encoraja no processo de convencimento. Nos aciona para esse novo olhar sobre quem somos e nosso legado. Sou artista e me reconheço nesse ofício.  

Depois das redes sociais, veio a gravação da canção, vídeos de promoção e lyric vídeo, feitos por mim no "Canva". Voltei a cantar na noite, voltei a florir no dia. Estou gravando outras. A cada nova canção que eu conceber e compartilhar com o mundo serei mais feliz. Isso me basta! 


 

Crônica de mãe

Parei por um ano minha relação com a música para experimentar o silêncio e solitude que acompanham uma mãe. O único som que me interessava n...